sexta-feira, 19 de junho de 2009

Capítulo 7 - Close to you

Lean estava sentado na arquibancada da quadra da escola. Ele observava seus colegas de classe tendo aula de educação física, estava fora naquela aula, pois havia quebrado o pé e o engessado.
Dentre todos os meninos que jogavam basquete, um único tinha por inteiro a atenção de Lean. Era ele o único que era seu, Mário. Lindo correndo com seu "short de educação física", sorrindo, fazendo cara de homem, concentrado, sério, risonho. Lean podia ficar ali, pra sempre. Fazendo o que mais gostava, encenando Clítio. E se virasse flor, queria ser plantado no cume do monte mais alto. Queria olhar seu Apolo por todos os cantos do mundo.

E foi ele. Mário, quem marcou a primeira sexta, de três pontos. Era exibido, sim. Ele podia ser. Marcada a sexta correu em direção a arquibancada, e mais especificamente em direção de Lean. Abraçou o amigo combalido e deu-lhe um beijo na cabeça.

"Essa foi pra você, vê se fica bom logo. Quero te ganhar." E saiu. Saiu, mas deixou uma semente na cabeça de Lean "Quero te ganhar." Será que esta frase estava carregada de segundas intenções? Seria que ao dizer quero te ganhar, o amigo disse que queria ter Lean, ou era simplesmente vencê-lo no jogo? A primeira era mais agradável aos sonhos de Lean, que creu ser ela a alternativa correta.

Depois de um tempo de jogo, Mário deslocou o pulso e, dispensado da aula, sentou-se ao lado de Lean, no lugar em que agora tinha mais cara de hospital do que de arquibancada.

"Poxa, ta doendo muito." Mário segurava o pulso.

"Pede a sua mãe pra dar um beijo, isso sempre funciona." Sugeriu Lean aos risos.

"Minha mãe ta bem longe agora. Os meus pais estão viajando a trabalho e além do mais, depois de certa idade beijo de mãe não passa mais a dor, tem que ser outro tipo de beijo", olhou nos olhos do amigo ao seu lado.

Lean ficou sem ação, pareceu-lhe que Mário estava lhe cantando, mas por medo, ou lerdeza, não quis arriscar uma investida. Poderia ser que estivesse enganado. Não colocaria em risco sua amizade, nem seu anonimato, melhor dizendo, armarionato. Da última vez que se arriscou, não foi muito feliz.

Talvez a dor ou o cansaço, ou quem sabe os dois, ou ainda o amor, fizera com que Mário recostasse a sua cabeça no ombro do amigo, que deitou a sua sobre a do outro. Estavam ali, como dois bons amigos que eram, a escola não desconfiava de nada, mas Deus, onisciente que só Ele, sabia que na mente daqueles seus filhos, aquele não era mais um gesto de amizade, mas de alguém que quer amar e ser amado. Estar assim, um tão perto do outro fez Lean lembrar de uma música, que era cantada antes mesmo de ele nascer :"Why do birds suddenly appear, everytime you are near? Just like me they long to be close to you..."

Sem perceber o que estava fazendo, Lean começou a cantar bem baixinho um pedaço da música:
"On the day that you were born the angels got together", numa fração de segundos Mário tomou fôlego e completou.

"...and decided to create a dream come true, so they sprinkled moon dust in your hair of gold, and starlight in your eyes of blue", o olhar dos dois se encontrou e riram.

"Você conhece essa música? É tão velha," Lean estava na verdade era sem o que dizer estava encabulado e ao mesmo tempo nas estrelas por ter dividido um momento como aquele com Mário. Que momento, afinal?!

"Como não? Minha mãe me criou ouvindo isso. Não há uma só música do The Carpenters que eu não conheça. Guardo essas músicas bem no centro do meu coração de selva."
"Você e essa sua mania besta de chamar o coração de selva!"

"E ele é, Leão." Disse Mário em tom misterioso enquanto contemplava o nada.

Duas semanas depois, Lean já não tinha mais o pé imobilizado e nem mesmo o tornozelo de Mário demonstrava sinais de luxação. Se a narrativa tivesse inicio neste parágrafo, algum leitor poderia imaginar que duas semanas antes os dois, Lean e Mário, haviam se atracado numa briga desgraçada. De maneira engraçada, eu diria que este leitor não estaria, de fato, errado. Os dois não tinham brigado, mas suas almas estavam impacientes, querendo ser completas, assim estavam se engalfinhando. E as feridas do corpo físico só fizeram refletir a dor e o desejo internalizados em ambos os meninos.

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