terça-feira, 7 de julho de 2009

Capítulo 10 - Biblioteca, o asilo

Refugiados entre as estantes de livros empoeirados, velhos e mofados, estavam os assustados, arregalados e lacrimejantes olhos de Mário. Ele estava nervoso, seu coração brincava de carnaval, e a quarta feira parecia não querer chegar. Como aquilo tudo era possível? Por quê? Era Lean quem estava lá. Era ele. Mário não entendia porque tinha feito aquilo se tudo o que ouviu era...Teria sido medo? Idiotice, bobeira? O que o fez sair de lá, deixando o seu amigo? Como estaria Lean, agora?

Não reagiu bem. Deveria ter ficado, ouvido o que o outro tinha pra dizer. Ouvir tudo. Mas a covardia tomou conta dele. Ao seu lado estavam Dorothy, o cachorro, o homem de lata e o espantalho, juntos faziam uma equipe perfeita, peregrinando pelos tijolos de ouro.

Andou pela biblioteca sentindo-se um saco de esterco, um parasita, alguém que não foi. O que ficou parado. Sem tomar a canoa, sem entrar no rio, sem buscar a margem terceira.

Da prateleira dedicada à Literatura Espanhola, tirou um livro no qual se encontrava o poema que mais gostava em toda sua vida. Leu as palavras que tanto bem conhecia:

"Perdi-me muitas vezes pelo mar, como me perco..." As palavras de Garcia Lorca faziam com que se lembrasse de Lean, seu melhor amigo. Os livros, nas prateleiras, eram sua platéia. Seu público não o aplaudia, não compactuava com sua atitude infame e covarde. Os livros que ali estavam apontavam suas páginas para ele, recriminando-o; seus títulos olhavam-no fixamente, e suas palavras o insultavam.

As lágrimas eram o Corifeu daqueles que diziam: "Covarde! Não se abandona um amigo!" Deixou-se escorregar pela parede gelada do lugar, até cair no chão. Quedado, paralisado, pronto pra virar geléia.

De onde menos se poderia esperar: um espelho. Desses de mão, caído entre os livros. Estaria, por aquela biblioteca, Hermione Granger fugindo de algum basilisco? Não, não estava. E o próprio espelho, que para a bruxa servira de refúgio e socorro, para Mário servia de basilisco. Feria-o de morte. O que via nele não era agradável, ora medonho, ora acusador. Via-se a si próprio, via sua imagem. De um covarde. E por outro lado acusava-se com olhos malignos, petrificadores, assassinos.

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